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Nesta semana, vamos investigar um tema que consideramos importante e intrigante: a nossa língua. Por isso, fomos perguntar ao Museu da Língua Portuguesa tudo o que não sabemos sobre o nosso idioma.

O BRASIL COM S – O que não sabemos sobre o nosso idioma?

ATALIBA T. DE CASTILHO (USP, assessor linguístico do Museu da Lingua Portuguesa):

As línguas são estruturas muito complexas, por envolverem a representação cognitiva do mundo por seus falantes. Só por aqui, se vê que o conhecimento sobre o nosso idioma não tem fim.

Tendo em mente, insisto, a inesgotabilidade do saber sobre qualquer língua natural, aí incluída a nossa, o que se segue não pode de forma alguma ser entendido como uma resposta definitiva à pergunta “o que não sabemos sobre nosso idioma”.

1. As categorias cognitivas compartilhadas pelas sociedades humanas, como fenômenos pré-linguísticos são, pelo menos, PESSOA, LUGAR, TEMPO, MOVIMENTO, QUALIDADE, QUANTIDADE, RELAÇÃO. Ainda não sabemos como tais categorias são expressas no português brasileiro, que categorias e estruturas linguísticas foram criadas para representá-las. Apesar das muitas pesquisas (que detalho em minha Nova gramática do português brasileiro, São Paulo, Editora Contexto, 2010), ainda sabemos pouco. Sobre a PESSOA, por exemplo, tem-se estudado as modificações da classe dos pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos. Sobre LUGAR e TEMPO, há trabalhos sobre os advérbios circunstanciais, os tempos verbais, etc. Sobre MOVIMENTO, pesquisou-se muito pouco ainda. As pesquisas devem considerar, neste tópico, o funcionamento dessas categorias cognitivas no português europeu, e as alterações que o brasileiros têm operado sobre elas.

2. A variedade falada culta do português brasileiro foi bastante estudada pelo projeto de gramática do português culto falado no Brasil: 8 volumes de ensaios + 5 volumes de consolidação, de que se publicaram três, estando o quarto no prelo. Entretanto, precisaríamos emparelhar com esses estudos uma descrição minuciosa do português brasileiro escrito.

3. A variedade popular, tecnicamente conhecida como “português vernacular”, conta com muitos estudos de caráter regional. Ainda não se completou esse conhecimento, nem tampouco se consolidou o que já se sabe em alguma obra de referência. Ora, a variedade popular foi trazida pelos portugueses quando começaram a colonização do Brasil, principiando por São Vicente, 1532. O português vernacular europeu é a base histórica do português brasileiro. Só mais tarde, com o surgimento das escolas, se desenvolveu a variedade culta.

4. Ainda não sabemos direito como o português europeu foi implantado no Brasil. Sabemos que os portugueses atuaram no Sudeste e no Sul a partir do séc. XVI, no Norte a partir do séc. XVII, e no Sul a partir do séc. XVIII. No século XX, já com o trabalho de brasileiros, ocorreu a expansão da fronteira agrícola, levando-se para os extremos do país o português do Sul, do Sudeste e do Nordeste. Tampouco sabemos com precisão como se deu o contacto do português europeu com as 220 línguas indígenas faladas na época, e nas dezenas de línguas africanas trazidas pelos escravos em épocas e regiões diversas. Isso sem falar nos contactos com as línguas de imigração. Em 1998, organizou-se o vasto Projeto para a História do Português Brasileiro, que reúne hoje mais de 200 pesquisadores, ligados a 13 equipes regionais. Esse grupo está enfrentando problemas, devendo ser publicado em 2015 um livro com 5 volumes e muito tomos, nos quais os temas 2 a 4 estão sendo tratados.

5. Por fim, a grande pergunta: Quais são as diferenças entre o português europeu, o português brasileiro e o português africano (o ponto de interrogação sumiu). Quando o português brasileiro se transformará na língua brasileira (idem). Como melhorar o ensino do português brasileiro como língua primeira e como língua estrangeira (idem). Qual será a presença do português brasileiro no mundo (idem).

(Foto da Árvore da Palavra, escultura localizada no Museu da Língua Portuguesa. Achamos no flickr da de.aires)