Conheci o trabalho da artista brasileira Bárbara Wagner na revista do IMS, com fotografias do Maracatu na região de Nazaré da Mata. Sua prática em fotografia está centrada na pesquisa e representação do ‘corpo popular’, suas manifestações históricas e estratégias de visibilidade e subversão dentro da indústria cultural e de consumo contemporâneas. Aqui, no O Brasil com S, ela nos responde:
Por que fotografar manifestações culturais da música folclórica brasileira?
Para O Brasil com S, em agosto de 2013
De repente, saber gingar pode ser o mesmo que saber entrar e sair, um tipo de conhecimento do corpo em movimento. Como um conhecimento, teria seu vocabulário próprio, um repertório que pode ser aprendido, imitado, subvertido. Como matéria que se move, estaria sujeita ao tempo e ao espaço, pondo em xeque tudo que imaginamos ser estanque, sendo um bom exemplo a idéia de tradição. Quem experimenta uma festa popular – no meu caso, no Nordeste do Brasil – não demora a entender que é exatamente no corpo em movimento (ou em transe) que se manifestam vários desses repertórios, coletivamente. No ritmo acelerado em que tentamos emparelhar o desenvolvimento econômico com o social, difícil é distiguir o que se repete do que se transforma, o vernacular do padrão, o ritual do consumo, o pop do popular.
Hoje, a tentativa de documentação de qualquer forma de tradição tem que levar em conta justamente essas entradas e saídas do ‘corpo popular’ na cultura de consumo. Como estratégias de participação e busca de visibilidade nessa nova economia de valores, ritmos de ‘mau gosto’ como o funk (no sudeste) e o brega (no norte e nordeste) podem ser vistos como uma nova forma de folclore nacional – nessa mesma passarela já foram igualmente condenados e celebrados o Samba, o Frevo e o Maracatu…
De repente, olhar pra essa gramática do corpo ou pra essa estética da grossura – que entra e sai ou ginga não por escolha, mas por sobrevivência – se faz novamente urgente, 30 anos depois de Lina Bo Bardi nos ter convidado a enxergar outro tipo de beleza, ou o ‘direito ao feio’,
“… base essencial de muitas civilizações desde a África até o Extremo Oriente que nunca conheceram o conceito de Belo, campo de concentração da civilização ocidental. De todo este processo foram excluídos uns ainda menos afortunados: o Povo. E o Povo nunca é Kitsch. Mas esta é uma outra história”.
Bárbara Wagner
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Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes