A Lenda do Boi-Bumbá conta que um fazendeiro muito rico tinha diversos bois, um deles era especial, sabia até dançar. Um belo dia, o funcionário da fazenda, Nego Chico, ficou encarregado de cuidar desse boi sozinho enquanto o dono viajava. Nessa época, a mulher de Nego Chico estava grávida e teve o desejo de comer língua de boi. Para satisfazer a esposa, Nego Chico matou o boi preferido do fazendeiro e deu sua língua de comer à mulher. Depois, fugiu para o meio da mata, antes do patrão voltar de viagem. O fazendeiro soube do sumiço e mandou seus capatazes o encontraram. Porém, nenhum o encontrou. Da mata, só os índios entendem. E foram eles que encontraram Pai Chico, dias depois, e seu pagé quem ressucitou o boi dançante. Assim o fazendeiro pode perdar Nego Chico pelo sumiço e acabou dando uma bela festa para comemorar o retorno do seu boi preferido, o boi-bumbá.
“A Festa do Boi no Morro do Querosene consegue preservar detalhes que até as do Maranhão já perderam”, dizem alguns moradores do Morro sobre a festa. Um deles, arrisca: “eu acredito que a Festa do Boi daqui seja uma espécie de museografia de uma arte popular”. Paetês, miçangas e lantejoulas. Tambores, pandeirões, matracas (dois pedaços de madeira batidos um contra o outro), maracás (uma espécie de chocalho) e tambor-onça (tipo de cuíca rústica, de som gravíssimo). O boi, Nego Chico e Catirina, o Fazendeiro, o índio, o vaqueiro. Todos os elementos reunidos lá. Em junho ele renasce, em novembro ele morre. No morro do Querosene, Tião Carvalho e o Grupo Cupuaçu reúnem a comunidade, há mais de 20 anos, para preservar a tradição em uma cerimônia com apresentações de maracatu, boizinho-mirim, forró de Assaré, cantadores e cirandeiros:
Festa do Boi – Morro do Querosene from O BRASIL COM S on Vimeo.
“Eu vi / Eu vi / Eu vi São Pedro brincar / Com as estrelas do Céu / E uma delas Cair / Na Aba do meu chapéu.” – cantam todas as crianças na Festa do Boizinho-mirim. Uma delas arrisca tocar os chifres do Boi-Bumbá – Sorte!
(Texto e vídeo por Ana Luiza Gomes. Muros do Morro do Querosene, São Paulo 2014)
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Curadoria e pesquisa: Ana Luiza Gomes.