Conhecemos a designer gráfica Elisa Ferreira, responsável por uma pesquisa de mapeamento da região portuária do Rio de Janeiro, incluindo o Morro da Conceição, em seu local de trabalho, GOMA.

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Difícil falar sobre a Elisa sem ser tomada pelas escadas de um belo casarão antigo na rua Senador Pompeu e todas as pessoas inspiradoras com quem trombamos e que fazem parte da associação de empresas e empreendedores autônomos de diversos setores da economia criativa, a GOMA.

Foi ela quem nos levou para conhecer todos os espaços compartilhados de trabalho, o estúdio de fotografia, o cantinho para o café, algumas mesas de reuniões e os projetos que preenchem aquele lugar, como a Tucum e a ZEREZES.

Por cima de um mapa antigo aberto em cima da mesa, Elisa vai dedilhando cada lugar que está pesquisando e compartilha com a gente que vive uma nova fase de conhecimento profissional, a que entende o meio como parte essencial da criação, seja nos trabalhos que faz junto a vários colegas da GOMA, seja buscando fornecedores e espaços de inspiração na rua Senador Pompeu.

É lá mesmo, no Bar do Jóia, que ela nos leva para comer um prato feito e conta: “Esse bar, na rua Conceição, final da “Peu” (apelido dado carinhosamente à rua Sen. Pompeu pelos sambistas) já foi administrado pelos seus clientes em momentos de crise, quando a dona ficou viúva e pensou em vender o estabelecimento”.

Éramos só ouvidos atentos, não só O Brasil Com S como o também um dos sócios da GOMA, Tomás de Lara, o artista Daniel Murgel e o curador Raphael Fonseca. Os dois últimos aqui seguiram subindo o Morro da Conceição em direção ao atelier de Daniel, enquanto Elisa nos levava para a Casa Porto, espaço cultural de afirmação, informação e transformação do carioca e cidadão da Região Portuária.

Tivemos a oportunidade de nos encantar com as ideias criativas e todo o importante trabalho como fomentador cultural de Egeu Laus, coordenador do projeto de cartografia colaborativa da região portuária, o Viajantes do Território.

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Depois de uma tarde de vários cafés com criativos cartógrafos cariocas, Elisa subiu o Morro da Conceição com a gente, visitando oas oficinas de trabalho das bordadeiras do Bordados Cariocas, do artista plástico Daniel Murgel e da designer de moda Júlia Vidal. Escutamos histórias de vida e de cidade que se cruzam como um emaranhado de fios da obra de Adriana Eu, artista que também trabalha na região. No sobe e desce, perguntamos a Elisa:

O Brasil Com S: Por que fazer parte da GOMA e mapear a região portuária do Rio, inclusive o Morro da Conceição?

Elisa Ferreira: Como designer gráfica, é fundamental estar na Goma, já que e o ambiente me dá a oportunidade de estar em contato com diversos profissionais e empresas da economia criativa. Minha rede de contatos se multiplicou e, por ser uma associação com gestão compartilhada, há uma troca muito rica de experiências profissionais. É possível notar até uma busca por soluções similares na GOMA, já que várias empresas aqui estão vivenciado problemas parecidos.

Na GOMA, procuramos priorizar as empresas e profissionais que fazem parte da nossa rede para participar dos projetos, pois acreditamos que dessa forma nos retro alimentamos e criamos oportunidades de crescimento para todos. Dessa forma, atuamos nos mais diferentes tipos de projetos, sendo, a maior a parte deles, referentes a questões de sustentabilidade.

Muitas reuniões acontecem informalmente e a forma como os projetos e os grupos de trabalho vão se formando são quase orgânicos. Isso acontece devido à transparência e confiança das pessoas que formam essa rede. Estar em um ambiente coletivo e colaborativo é enriquecedor, pois todos estão sempre inventando e reinventando o espaço e as diversas maneiras de se trabalhar já que a hierarquia é horizontal. É um ambiente que está em constante transformação e construção. Aprendo muito todos os dias e acho muito importante fazer parte da GOMA.

Estamos situados na zona portuária do Rio de Janeiro, região que já foi bastante esquecida, praticamente abandonada. Hoje, com o projeto de revitalização da prefeitura do Rio, com a construção da cidade olímpica e a perimetral sendo derrubada, a região está sendo redescoberta e valorizada.

Muitas empresas estão migrando para a zona portuária, mas é importante ter o cuidado para que, o que poderia ser uma oportunidade não se tornar uma ameaça, já que cada vez está ficando mais difícil encontrar os estabelecimentos tradicionais que fizeram parte da história local, assim como boa parte das pessoas que lá viveram.

Com isso vai se perdendo não só a história, mas a alma do lugar. O porto do Rio de Janeiro foi a porta de entrada dos negros, portugueses e diversos outros povos que foram dando origem à cultura carioca e onde foram surgindo os grandes sambistas.

Acredito que fazer o mapeamento e o registro do que ainda existe nesses lugares e estabelecimentos, resgatar a história e as estórias das pessoas que ainda vivem nessa região é fundamental para podermos entender e respeitar o local onde trabalhamos e passamos boa parte do nosso tempo. Além de conhecermos possíveis fornecedores locais e criamos maneiras de colaborarmos com as pessoas que vivem nessa região.

Meu projeto parte da intenção de realizar um levantamento dos estabelecimentos comerciais, tendo como ponto de partida a rua Senador Pompeu, onde a GOMA está situada, e ir abrangendo as demais ruas da zona portuária. Pretendo desenvolver esse projeto de forma colaborativa, onde todos possam contar o que sabem do local, postar fotos e apontar locais num mapa aberto (a princípio o open street maps).

O ojetivo é cruzar essas informações com a história do local e dos moradores para atrair as empresas e pessoas que estão chegando nessa região e precisam de mais informações locais, servindo a função de um guia, que quando acessado vai conduzindo o usuário para a história do local. Com isso acredito que eu possa despertar a admiração e respeito pela cultura e preservação da zona portuária.

Recentemente, descobri que Chiquinha Gonzaga nasceu na Senador Pompeu. Assim como João da Bahiana, mas infelizmente sua casa foi destruída num incêndio perto da estação central. Dizem que Aluisio de Azevedo escreveu “O Cortiço” baseado no espaço que ainda existe também nessa rua e foi preservado de acordo com as suas características originais. Inclusive ainda existem os tanques onde as mulheres lavavam roupas por lá.

(A pesquisa deste tema recebeu apoio da Farm que arcou com os custos de viagem e hospedagem para imersão local no Rio de Janeiro. Obrigada, Farm).

Pesquisa e entrevista: Ana Luiza Gomes