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Tapajós, um tema de pesquisa feito em parceria com o Luis Felipe Rubião do Viageria, uma galeria colaborativa sobre viagem e cultura. Um conteúdo que é resultado de anos de amizade, de risadas durante banhos em rios, de noites de redes e lendas, de jambu com tucupi. Um tema que é sobre encontro, sobre reencontro e, como conta abaixo o Lu, sobre abraços nos caminhos.

O Brasil que me ensinou a viajar

O barco Figueira Conceição se distanciava de Alter do Chão. Na frente, oceano. Um oceano chamado Tapajós. Ao nosso lado, Osmarino. Cantor e compositor de carimbó, ele nos acompanharia nos próximos dias de passeio, contando histórias de boto cor de rosa e curipira, cantarolando carimbó. 

Em Urucureá fomos parar na escola, onde o professor Álvaro desenvolvia um projeto artístico com as crianças para sinalizar as lixeiras da comunidade. À essa altura, além do Osmarino, já éramos acompanhados por José Tapajós, homem apaixonado pela mulher artesã de sobrenome Silva. Sim, família Silva Tapajós. Ele nos guiou numa caminhada pela comunidade e pela floresta, até chegar do outro lado, numa praia banhada pelo Rio Amazonas onde presenciamos dois pescadores chegando de barco com pirarucus e bacus gigantes. 

Ao entardecer, uma cena inesquecível. Era Adaílton Silva Tapajós, o enteado do seu José de 12 anos que surgia do horizonte numa canoa. Foi impossível ficar só assistindo. Quando ele se aproximou da margem, embarcamos num passeio sob uma meia-luz inacreditável. E dormimos ali mesmo, na rede, numa faixa de areia entre a floresta e o rio. Entre os macacos Guariba, que faziam um som altíssimo e barulhos que pareciam prováveis cobras. Entre vários sons de insetos, sapos e outros animais que ali vivem. Era o quintal da família Silva Tapajós. Claro que não dormi.

No Jari, uma aula sobre a capacidade de adaptação do ser humano. A família da dona Rosângela e do Edeval mora numa região que fica completamente alagada durante a metade do ano. A região é plana e de março a agosto, não sobra nem uma área seca sequer. A casa, uma palafita imensa, tem uma cozinha enorme, cachorros, horta suspensa e até galinheiro. No “quintal”, uma floresta emerge das águas de tom marrom que também abrigam cobras e jacarés. Nas árvores altíssimas, macacos, bichos-preguiça e pássaros.

O sorriso fácil daquelas pessoas deixava tudo mais leve. Eles caçam a carne que comem, eles cuidam da floresta. Entrar na casa de cada um deles é entender que não preciso de um terço das coisas que tenho. A viagem que me apresentou a floresta amazônica me fez prestar mais atenção nas pessoas. Fez com que eu trocasse o passeio de seis horas para abraçar a samaúma gigante por um passeio por duas comunidades ribeirinhas para abraçar todas as pessoas que encontrei no caminho.

O barco Figueira Conceição se aproximava de Alter do Chão. Lá dentro, entre redes e desejos, eu e Mayra pensávamos a mesma coisa: não havia a menor chance de irmos dormir numa pousada. Foi quando Valquir, capitão e proprietário do barco, que a essa altura já era nosso amigo, nos contou que passaria a noite ali perto, ancorado na Ilha do Amor. Estava resolvida a nossa noite.

E pra quem acha maluquice sair da cidade para ficar um tempo na floresta, um aviso: a amazônia paraense é, antes de tudo, um abraço.

(Luis Felipe Rubião, do Viageria, para O Brasil Com S. Conteúdo por Mayra Fonseca. Este tema foi feito em parceria com o Viageria e com o apoio da AMZ Projects. Foto por Luis Rubião.).